segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

09/02/15 - O confisco da Verdade
09/02/15 - O confisco da verdade  
Ricardo Noblat – O Globo – 09/02/15
Quem disse: “[A recente campanha eleitoral foi] a mais suja. Aquela em que nossos adversários utilizaram as piores armas para tentar nos derrotar. Tentaram fraudar a vontade política da maioria, usando todos os seus recursos de comunicação para manipular, distorcer e falsear”?
Aécio Neves? Fernando Henrique Cardoso? Dilma? Lula?
Claro, Lula, no aniversário de 35 anos do PT. Quem mais ousaria tanto? 
A metamorfose ambulante, como um dia Lula se apresentou, teve a cara de pau de dizer mais. Do tipo: 
- O PT nasceu para ser diferente. A verdade é que foi o governo deles que tentou destruir a Petrobrás. E foi o nosso governo que a resgatou, retomou os investimentos que levaram à descoberta do pré-sal e fizeram da Petrobrás a maior produtora mundial de petróleo entre as empresas de capital aberto. 
Sobre a corrupção na Petrobras, nem um pedido de desculpas. 
Como a vingança veio a galope, Lula, Dilma e o PT foram obrigados a amargar, um dia depois de se reunirem em Belo Horizonte, os resultados da primeira pesquisa de opinião pública aplicada, este ano, pelo Datafolha. 
Despencou a popularidade de Dilma reeleita pelo “partido que veio para repelir a mentira”, segundo Lula. Dilma alcançou a pior avaliação de um presidente desde 1999. 
Tinha 42% de ótimo e bom e 24% de ruim e péssimo em dezembro último. Agora, respectivamente 23% e 44%. 
Metade dos que ganham até dois salários mínimos considerava o governo Dilma ótimo ou bom. Agora, 27%. 
Quer dizer: 23 pontos percentuais de queda em dois meses. 
Como preocupação dos brasileiros, a corrupção subiu para o segundo lugar (21%). Só perde para a saúde (26%). 
Está bom ou quer mais? 
Quase 80% dos entrevistados acreditam que Dilma sabia da corrupção na Petrobras. Para 52%, sabia dos desvios de dinheiro e deixou que continuassem. 
Pouco menos de 50% a consideram desonesta, além de falsa (54%) e indecisa (50%). Seis em cada 10 entrevistados acham que Dilma mentiu para vencer. 
Estelionato eleitoral? É disso que se trata. Chega! Basta! Fora! 
Fora? Talvez exagere. 
Mas quando começou o falatório pedindo o impeachment de Fernando Collor, o PT negou que fosse golpe.  Collor caiu. 
O PT negou que fosse golpe a tentativa de derrubar Fernando Henrique Cardoso quando ele se reelegeu. 
Ora, o impeachment está previsto na Constituição. Outro dia, nos Estados Unidos, falou-se em impeachment de Obama. Como antes no de Bill Clinton. Ninguém rebateu dizendo que era golpe. 
Collor ganhou acusando Lula de estar decidido a confiscar parte da poupança dos brasileiros se vencesse. 
Fernando Henrique se reelegeu garantindo que não desvalorizaria o real. 
Dilma está de volta depois de ter dito que seus adversários fariam a infelicidade do povo, adotando medidas que ela jamais adotaria. 
Collor confiscou a poupança. Fernando Henrique desvalorizou o real. Dilma está fazendo o contrário do que disse. 
O que eles têm em comum? 
Confiscaram a verdade. 
Em 1986, o então presidente José Sarney lançou o Plano Cruzado, que congelou salários e preços. Quase virou santo. 
Naquele ano, o PMDB e o PFL de Sarney elegeram 23 governadores em 23 possíveis, 40 de 43 senadores e 378 de 487 deputados federais. 
Alguns dias depois, Sarney acabou com o congelamento. De passagem pelo Rio de Janeiro, dentro de um ônibus com a sua comitiva, foi apedrejado por uma multidão.

Lula diz que há um golpe em marcha para depor Dilma. Bobagem! 
O golpe já foi dado. Por ele, Dilma e o PT ao encenarem a farsa eleitoral do ano passado.


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